Para a Science o acontecimento científico do ano é a reprogramação de células adultas em células estaminais
"As possibilidades para a medicina da produção de células estaminais por reprogramação de células humanas adultas, no âmbito do desenvolvimento de um processo descoberto em 2006, foi o motivo para a Revista Science ter considerado como acontecimento científico do ano a conversão de células adultas humanas em pluripotentes induzidas (IPS no acrónimo em inglês).
Permitirá "novos avanços da Medicina que poderão salvar vidas", justifica a revista na sua última edição.
O estudo das células IPS teve início em 2006 quando cientistas da Universidade de Quioto, no Japão, liderados por Shinya Yamanaka, anunciaram a reprogramação de células da pele do ratinho em células muito semelhantes a células estaminiais embrionárias.
Posteriormente, em 2007, cientistas norte-americanos e japoneses obtiveram o mesmo resultado com células da pele humana e já este ano foi conhecido outro avanço, quando cientistas norte-americanos transformaram em IPS células da pele de doentes com esclerose lateral amiotrófica (ELA), uma doença neurodegenerativa sem cura, tendo depois induzido a sua diferenciação em neurónios motores como os destruídos pela doença. Este ano, o reconhecimento surge “pelo facto de se conseguir linhas de células estaminais como modelos celulares reprogramados no estado de pluripotentes induzidas que permitem ser modelos de descoberta.”, explicou ao Ciência Hoje Perpétua Pinto do Ó, do INEB-IBMC, Porto. Valorizando a própria descoberta do mecanismo de produção das IPS, em 2006, por Shinya Yamanaka, da Universidade de Quioto. Doutorada na área da Biologia das Células Estaminais pela Universidade de Ulmea na Suécia, a investigadora salienta a importância da descoberta considerando-a “uma fonte de material in vitro que vai permitir uma série de estudos genómicos e celulares e perceber mecanismos de doenças e formas terapêuticas”. “É um fonte infinita de material”, afirma Perpétua Pinto do Ó.
Um anúncio recente no desenvolvimento da investigação de Shinya Yamanaka, cientistas do Instituto Whitehead, nos Estados Unidos, anunciaram já este mês ter conseguido simplificar a criação destas células pluripotentes ao reduzirem de quatro para um o número de vírus usados no processo de reprogramação. Anteriormente eram precisos quatro vírus separados para transferir genes para o ADN das células, sendo que, uma vez activados, são esses genes que fazem passar as células do seu estado adulto, diferenciado, para o de células do tipo embrionário. Por terem a mesma capacidade de diferenciação das embrionárias, estas células poderão no futuro ser usadas para tratar doenças como a de Parkinson e a diabetes de tipo 1. As possibilidades que se criam poderá dispensar a necessidade de dadores, de fazer clonagem terapêutica ou de se usarem embriões humanos das clínicas de fertilidade, reduzindo os problemas de natureza ética que a investigação com células estaminais enfrenta em muitos países. Mesmo assim, teme-se que a discussão do uso destas células crie novos debates éticos. A Claudina Rodrigues-Pousada, investigadora do Instituto de Tecnologia Química e Biológica, em Oeiras, não espanta que se crie uma discussão por causa das células estaminais e embriões e outras. Contudo, recorda que em muitas reuniões a que tem assistido são evidentes os resultados que demonstram a importância das células estaminais para a ciência e para combater uma doença, para os órgãos das vítimas de doenças genéticas.
“Isto é o futuro da medicina”, descreve ao Ciência Hoje, recordando a comunicação, num workshop em que se demonstrou as vantagens da cultura de células estaminais e “já tinham feito tecidos a partir das células estaminais”. “Aprovo a utilização de células estaminais na formação de tecidos e de órgãos, assim como tudo que possa ajudar na saúde e a evitar a doença”, conclui Claudina Rodrigues-Pousada."
Por Filinto Melo no Ciência hoje.
Retirado de http://www.cienciahoje.pt/index.php?oid=28738&op=all
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