sexta-feira, 9 de maio de 2008

LusoExpedição OLYMPUS 2008

O Banco de Gorringe a Madeira e o percurso
das espécies marinhas no Atlântico Nordeste


Durante a última grande glaciação, a Glaciação de Wurm (há cerca de 18.000 anos) o nível médio das águas do Oceano Atlântico estava aproximadamente 150 m mais abaixo do que se encontra hoje em dia. Este processo durou vários milhares de anos, fazendo com que muitas montanhas que estão actualmente submersas, formassem outrora ilhas ou até mesmo arquipélagos. Assim, um conjunto destes montes submarinos como é o caso do Banco de Gorringe, podem ter sido utilizados como uma ponte de passagem para as espécies marinhas de proveniência europeia em direcção ao Arquipélago da Madeira e dos Açores, aproveitando correntes marinhas favoráveis. Este Banco encontra-se numa montanha submarina com cerca de 5000 metros que faz parte de uma cordilheira que se estende desde o Sul de Portugal até ao Arquipélago da Madeira (cerca de 9.500Km2 de extensão).



Figura 1 – Mapa do Atlântico Nordeste com as curvas batimétricas do Banco de Gorringe (no centro) e o Arquipélago da Madeira (em baixo)


Nesta Cordilheira encontram-se também outros bancos conhecidos, como é o caso do Banco de Ampère e do Banco de Josephine. O Banco de Gorringe encontra-se localizado a Sudoeste do Cabo de São Vicente, a uma distância de cerca de 200 Milhas náuticas (Latitude N 36º 32' Longitude W 011º 33'), a meio caminho entre Portugal Continental e o Arquipélago da Madeira.


Alguns destes picos, encontram-se hoje a uma profundidade relativamente baixa, sendo possível, em muitos deles, o mergulho com recurso a escafandro autónomo. Será este o grande objectivo desta expedição, uma vez que estas “ilhas submarinas” são locais praticamente inexplorados e constituem verdadeiros “oásis de biodiversidade” no meio do Atlântico. A LusoExpedição 2008 será uma missão científica cujo o objectivo principal é a recolha de peixes e invertebrados marinhos nestes cumes submersos. Este ano, as recolhas realizadas pelos investigadores abrangem não só o Banco de Gorringe mas também a Madeira, as Desertas e Porto Santo utilizadas como termo de comparação com os dados do continente. A expedição será organizada por investigadores da Universidade Lusófona de Humanidades de Tecnologias, aos quais se poderão associar investigadores de outras universidades, tal como tem acontecido nos 2 últimos anos. Caso este projecto seja viabilizado existe já o interesse da Universidade do Algarve, da Universidade dos Açores, da Universidade do Porto (CIBIO), da Universidade de Amsterdão e da Universidade Nacional Autónoma do México.


Esta missão vai ser realizada a bordo do Navio de Treino de Mar (NTM) Creoula da Marinha Portuguesa entre os dias 6 e 15 de Junho e os investigadores responsáveis pelo projecto serão acompanhados por cerca de 30 estudantes universitários que terão a responsabilidade de analisar o material recolhido em mergulho.


Este projecto pretende testar duas hipóteses científicas relacionadas com a evolução e colonização da fauna marinha do Atlântico Nordeste, prosseguindo o trabalho que tem vindo a ser desenvolvido nas expedições anteriores:

1) Como actuaram estes picos submarinos no passado e como actuam agora: como pedras de passagem, ou refúgios intermédios na dispersão da fauna a longa distância?
2) Estarão as populações marinhas ali existentes geneticamente isoladas das de Portugal Continental, Madeira e Açores?

Para testar as hipóteses referidas, levaremos a cabo uma série de metodologias normalmente utilizadas neste tipo de estudos ecológicos:

1) Transectos (linhas de recolha de larvas no plâncton ao longo de todo o percurso);
2) Mergulho com escafandro autónomo que possibilite:
a) seleccionar e recolher algumas espécies modelo;
b) construir uma colecção de referência e descrever novas espécies;
c) estabelecer as actuais relações biogeográficas dos organismos recolhidos utilizando marcadores genéticos apropriados;
d) amostrar cuidadosamente áreas definidas com diferentes povoamentos de organismos bentónicos para estudos ecológicos quantitativos;
e) descrever as comunidades associadas a estes picos;

Todo o material recolhido será triado in vivo a bordo, descrito, catalogado e fotografado. Os exemplares serão então distribuídos pelos investigadores que integram o projecto, de acordo com as suas áreas de especialização e actuais interesses de investigação. Os objectivos de cada equipa são tão diversos como estudar as relações genéticas (DNA) dos organismos recolhidos nestes locais isolados ou purificar e testar alguns dos compostos produzidos por estes organismos, alguns deles com características únicas, ao nível da sua aplicação no desenvolvimento de novos medicamentos ou em potenciais aplicações industriais.

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