segunda-feira, 19 de maio de 2008

Malária: investigadores portugueses revelam novo papel de enzima envolvida na infecção

Investigadores portugueses demonstraram pela primeira vez um novo papel crucial desempenhado por uma enzima envolvida na infecção por malária, indica um estudo publicado com destaque de capa numa revista científica norte-americana.

O estudo foi realizado por Sabrina Epiphanio e outros membros da Unidade de Malária do Instituto de Medicina Molecular, de Lisboa, liderada por Maria Mota, em colaboração com Miguel Soares, do Instituto Gulbenkian de Ciência e de investigadores norte-americanos e alemães.

A Cell Host & Microbe, uma nova revista do prestigiado grupo Cell, destaca o estudo com uma fotografia de capa que mostra células provenientes da resposta inflamatória do hospedeiro a atacar um hepatócito infectado no fígado.

"A infecção por malária ocorre em duas fases, uma hepática, que é assintomática mas obrigatória, e outra sanguínea, durante a qual surgem os sintomas da doença", explicou Maria Mota à agência Lusa.

"No ano passado, publicámos na revista Nature Medicine que a enzima HO-1 (heme oxigenase-1) protegia os ratinhos da forma mais letal da doença, a malária cerebral, durante a fase sanguínea", disse a investigadora.

Porém, "quando estávamos a fazer essa investigação reparámos que em fígados infectados com malária durante a fase hepática esta enzima também estava aumentada, o que nos deixou confusos, sem saber bem qual o papel desta molécula do hospedeiro durante a fase silenciosa da doença", recordou.

"O que nós agora mostrámos" - salientou - "é que na fase inicial, que dura cerca de sete dias nos humanos e é totalmente assintomática, esta enzima protege o parasita da resposta inflamatória e ajuda-o a estabelecer-se no hospedeiro, enquanto que mais tarde, logo que o parasita chega ao sangue e começam os sintomas, a enzima ajuda o hospedeiro a proteger-se dos sintomas mais graves".

"Este estudo revela pela primeira vez que este mesmo enzima é essencial para o estabelecimento da fase inicial e obrigatória para iniciar malária", afirmou.

A investigadora sublinhou a colaboração do grupo de Miguel Soares, do IGC, que trabalha nesta enzima há muitos anos, e de investigadores norte-americanos e alemães que desenvolvem tecnologia muito avançada usada para depletar esta enzima especificamente do fígado.

O principal objectivo do grupo liderado por Maria Mota é aprofundar o conhecimento dos factores do hospedeiro humano que influenciam a infecção pelo Plasmodium, o parasita causador da doença, na perspectiva de gerar pistas para o desenvolvimento de estratégias para o seu controlo.

A malária é uma doença infecciosa que se transmite através da picada do mosquito Anopheles ou, raramente, por transfusões sanguíneas, sendo responsável por 200 a 500 milhões de casos de que resultam 1 a 3 milhões de mortes de crianças todos os anos.

Negligenciada durante muito tempo, a investigação na malária tem vindo a crescer nos anos recentes, nomeadamente em Portugal, através dos grupos que trabalham no Instituto de Higiene e Medicina Tropical, no IMM e no IGC.

Investigadora principal no IMM da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, Maria Mota doutorou-se em Parasitologia Molecular no University College London (1998) e é também investigadora internacional do Howard Hughes Medical Institute (EUA).

Este estudo foi parcialmente financiado pela Gemi Fund, a Fundação para a Ciência e a Tecnologia e a European Science Foundation.


Texto retirado deste site

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