Subida do nível das águas põe em risco Ria Formosa
A subida do nível médio das águas do mar e as sucessivas tempestades marítimas registadas recentemente no Algarve são o motor de arranque para a área da Ria Formosa minguar nas próximas décadas e para obrigar à migração das ilhas barreira para terra.As cinco tempestades marítimas registadas em apenas um mês no Algarve, com galgamentos oceânicos sobre o cordão dunar, provocaram o recuo da linha de costa e o derrube de 20 casas junto à Ria Formosa. Mas as consequências imediatas são só a ponta do iceberg.
"Numa perspectiva de subida do nível médio do mar, prevê-se que haja uma migração efectiva das ilhas barreira para o interior e, por isso, toda a área costeira pode vir a migrar de forma paulatina", observou Óscar Ferreira, geólogo e especialista em dinâmica costeira da Universidade do Algarve.
"Numa perspectiva de subida do nível médio do mar, prevê-se que haja uma migração efectiva das ilhas barreira para o interior e, por isso, toda a área costeira pode vir a migrar de forma paulatina", observou Óscar Ferreira, geólogo e especialista em dinâmica costeira da Universidade do Algarve.
O investigador não quer entrar em alarmismos imediatos, mas em entrevista à agência Lusa menciona que se trata da evolução natural devido à subida do nível médio do mar, que pode ser mais rápida e potenciada pelo registo de tempestades marítimas.
Os riscos associados à migração das ilhas barreira para o interior podem prevenir-se com a diminuição directa da ocupação humana da Ria Formosa, nomeadamente não "bordejando o sistema lagunar com ocupação em cimento", alertou.
"Quando essas áreas estão ocupadas por nós [seres humanos] de forma maciça, o que acontece é um encolhimento do sistema que contribui para aumentar a sedimentação dos canais, perda da troca de circulação da água e da sua qualidade", explica o especialista, acrescentando que “se as ilhas barreira não puderem migrar livremente para o interior, a dimensão da Ria Formosa vai diminuir, destruindo ou danificando valências ambientais únicas como os sapais ou as pradarias marinhas".
O especialista salientou ainda que se houver perda parcial do ecossistema, poderá também haver uma diminuição da qualidade ecológica do sistema e da sua qualidade económica, referindo-se, por exemplo, à actividade de mariscultura."Se não houver uma boa renovação da água, acaba por se perder a qualidade de todo o ecossistema", observa, recordando que a sobrevivência dos organismos e de toda a economia relacionada fica em perigo.
Na opinião do cientista, os planos de ordenamento da orla costeira devem integrar as consequências das alterações climáticas globais, nomeadamente a subida do nível do mar, mas "raramente os planos de gestão costeira contemplam a dinâmica dos sistemas naturais".
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