Cientistas portugueses recebem bolsa milionária para criar vacina contra malária
Dois cientistas portugueses foram seleccionados para a fase inicial de uma bolsa de investigação no valor de um milhão de dólares (cerca de 700 mil euros), para cada um, com o objectivo de desenvolverem uma vacina contra a malária. Miguel Prudêncio, do Instituto de Medicina Molecular (Lisboa), e Miguel Soares, do Instituto Gulbenkian de Ciências (Oeiras), tiveram ideias consideradas revolucionárias pela Fundação Bill e Melinda Gates (FBMG), nos EUA.
Há várias hipóteses de investigação científica para desenvolver uma vacina contra a malária - doença que ameaça 40% da população mundial -, mas nem todas são "out of the box".
"O que fizemos até aqui foram ensaios preliminares no sentido de obter um parasita transgénico - a partir de um parasita de malária que só infecta roedores - que tenha capacidade de despoletar a resposta do sistema imunitário do ser humano contra a doença", explica Miguel Prudêncio, de 39 anos, investigador principal no Instituto de Medicina Molecular, em Lisboa.
Mas há outra ideia para chegar ao mesmo objectivo que chamou a atenção da entidade criada por Bill Gates, o fundador da multinacional de informática Microsoft, agora dedicado aos desafios do desenvolvimento humano.
"Achamos que alguns anticorpos naturais que existem no ser humano têm como função agir contra este pequeno esporozito (célula causadora da malária), que tenta chegar à circulação, de maneira a que este seja "apanhado" o mais rapidamente possível", explica Miguel Soares, 42 anos, a trabalhar no Instituto Gulbekian de Ciências, em Oeiras.
O problema é que este grupo de anticorpos só atinge a potência de protecção total a partir dos cinco anos de idade do humano. Um factor decisivo quando se sabe que 85% dos casos mortais de malária ocorrem em crianças até cinco anos.
Estes dois projectos foram seleccionados entre 2400 candidatos de todo o mundo para as bolsas Grandes Desafios da Saúde Global, da FBMG. Um salto qualitativo importante para os dois cientistas que trabalham nesta área à cerca de meia década.
"Há um consenso generalizado que só se vai conseguir erradicar a malária se se atacar em várias frentes: com medicamentos novos para o tratamento e na prevenção através da vacina. O facto da FBMG ter objectivos tão clara e publicamente traçados pode dar impulso adicional a outras entidades competentes para financiarem a ciência", realça Miguel Prudêncio.
Entre a ideia e uma vacina, se tudo correr bem na investigação, deverá passar cerca de uma década, tal a complexidade do processo de testes.
Maria Manuel Mota que, em 2004, recebeu o prémio da Fundação Europeia da Ciência, no valor de mais de um milhão de euros, na sequência de um trabalho sobre a malária, acredita que "um país moderno não pode dispensar o desenvolvimento científico".
A investigadora considera que até um país com poucos recursos, como Portugal, pode ter outros "interesses" na erradicação de uma doença que não afecta a sua população directamente.
"A malária não é um problema de Portugal, do território português, mas é um problema se a economia portuguesa se quiser virar para países em que o mercado ainda está a crescer, como é o caso dos de África e da América Latina, onde este problema é endémico e extremamente grave", refere.
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