sábado, 9 de fevereiro de 2008

Cientistas revelam importância das alterações climáticas do passado na distribuição actual das espécies

A diversidade de espécies de anfíbios e répteis existentes hoje na Europa terá sido condicionada pelas alterações climáticas há 21 mil anos atrás, no período da última glaciação. Segundo um estudo publicado pela revista científica "Ecography", as regiões com uma elevada concentração de espécies endémicas devem mais ao Quaternário do que às variações do clima contemporâneo.



A investigação, coordenada pelo investigador português Miguel B. Araújo (Imagem) e conduzida por uma equipa de cientistas do Conselho Superior de Investigações Científicas (CSIC), de Madrid, confrontou a teoria do "clima histórico" com a do "clima contemporâneo".


A primeira hipótese sustenta que as espécies são excluídas de áreas que sofrem alterações climáticas mais drásticas, sendo que a estabilidade do clima, ao longo do tempo, favorece a persistência e a especiação. Já a segunda hipótese diz que o clima contemporâneo afecta a quantidade de recursos disponíveis nas regiões, determinando o numero de espécies capazes de coexistir num dado período.


Segundo Miguel B. Araújo, a hipótese do clima histórico parece ser mais acertada quando se fala de espécie com fraca capacidade de deslocação.

"Uma resposta rápida às alterações climáticas pode ser dada por algumas espécies que têm grande capacidade de dispersão, com as aves ou as borboletas, mas o estudo demonstrou que não é isso que se passa com os repteis e anfíbios, espécies com menos capacidade para se deslocarem e que se encontrarão mais expostas as alterações climáticas no futuro".



A teoria de uma resposta lenta às alterações climáticos entraria em conflito com os modelos de impacto do clima sobre as espécies onde se assume que a adaptação das espécies às variações climáticas actuais seja rápida.

"A nossa investigação contradiz os estudos anteriores sobre a diversidade de espécies a grande escala e sugere que o clima do passado contribui para a riqueza das espécies actuais, ou de forma independente do clima contemporâneo ou, na menor das hipóteses, tanto como ele", disse o investigador.



De acordo com os investigadores, esta questão tem sido muito debatida e não se chega a um consenso porque é impossível comparar duas teorias em desigualdade de circunstâncias. "A inexistência de dados quantitativos sobre a distribuição dos climas do passado impediu até agora uma investigação sobre os efeitos do mesmo na distribuição actual das espécies. No entanto, a utilização de modelos climáticos de previsão para descrever o clima do passado abre novas portas à investigação fundamental e aplicada em Ecologia", explicou David Nogués, co-autor do estudo.



Segundo Miguel B. Araújo, a nova geração de modelos de previsão do impacto climático sobre a biodiversidade teria de incluir dados sobre a forma de sobreviência das espécies no passado.

"Não havendo esta informação, vão dar lugar a previsões que podem ser optimistas, como prever a persistência de espécies que na realidade se extinguem, ou pessimistas, como prever extinções quando as espécies são na realidade capazes de sobreviver", alerta o investigador.

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Texto e imagem retirados deste site

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