Prevenção cardiovascular pode estar ao alcance de um comprimido por dia?
Benefícios das estatinas parecem ser muito mais amplos do que se pensava
Um mega-estudo internacional, destinado a avaliar os efeitos de um medicamento redutor do colesterol em pessoas que não tinham níveis de colesterol particularmente elevados - e que tinha sido previsto para durar cinco anos -, foi interrompido antes de completar dois anos. Porquê? Porque os resultados obtidos foram a tal ponto positivos que foi considerado inaceitável que uma parte dos participantes continuasse a tomar um placebo (um medicamento fictício) em vez de beneficiar da verdadeira substância.
A interrupção do estudo, baptizado Jupiter e a decorrer em 26 países junto de quase 18 mil pessoas - bem como os motivos dessa decisão -, foi anunciada anteontem no congresso da Associação de Cardiologia norte-americana, em Nova Orleães, ao mesmo tempo que os resultados eram publicados on-line pela revista "New England Journal of Medicine".
Quem tem muito colesterol no sangue corre o risco de ter um enfarte ou um acidente vascular cerebral - e de morrer ou ficar seriamente incapacitado. Para reduzir os níveis de colesterol, os médicos receitam estatinas.
Neste estudo, liderado por Paul Ridker, da Universidade de Harvard, tratava-se de estudar uma estatina particular: a rosuvastatina, nome comercial Crestor, fabricada pelos laboratórios AstraZeneca, que financiaram a investigação. Só que o objectivo não era avaliar os efeitos em pessoas com altos níveis de colesterol, mas em pessoas com níveis de colesterol normal. Homens e mulheres de uma certa idade que, em princípio, não apresentavam um risco acrescido de enfarte ou AVC. Tinham, isso sim - e foi isso que motivou o estudo -, altos níveis no sangue de uma proteína, a hsCRP (high-sensitivity C-reactive protein, ver imagem), que indica que o organismo está a ser o palco de um processo inflamatório. Pensa-se hoje que a inflamação, que é uma defesa do corpo contra as infecções e as agressões exteriores, poderá estar na raiz das doenças cardiovasculares.
Os cientistas começaram a administrar a droga aos participantes, à razão de 20 miligramas por dia, em 2003, explica um comunicado do Hospital Brigham and Women's de Boston. Mas ninguém estava à espera de tais diferenças entre os que tomavam o medicamento e os que tomavam o placebo: os primeiros viram 54 por cento menos crises cardíacas, 48 por cento menos acidentes vasculares cerebrais, uma redução de 46 por cento nas angioplastias e bypass cardíacos e uma redução de 20 por cento da mortalidade em geral. Isto surpreendeu a tal ponto o painel independente que acompanhava o estudo que esses peritos decidiram pôr fim à experiência e distribuir o medicamento a todos.
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