segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Quando boceja um português bocejam logo dois ou três!

Porque temos tendência a bocejar quando vemos alguém bocejar? Este tipo de “reflexo” tem uma explicação, e não é assim tão complicada. Sabemos hoje que, no nosso cérebro, alguns neurónios disparam, isto é, funcionam, mesmo quando estamos apenas a observar outras pessoas a realizarem determinada actividade. Trata-se de um sistema chamado “espelho”, em que os neurónios funcionam como se fossem um espelho daquilo que vemos, sendo conhecidos como neurónios espelho.

Este fenómeno acontece também quando vemos um jogo de futebol, quando o nosso jogador favorito parte para a bola e remata para golo. Ou quando o nosso actor ou actriz favoritos se debruçam para beijar o parceiro. Certos neurónios no nosso cérebro disparam como se estivessemos nós próprios em acção!
Sabendo isto, coloca-se uma questão óbvia: como é que o sistema espelho adquire as suas propriedades reflexivas? Será que o seu funcionamento está pré-determinado pela evolução ou será que é o produto da experiência?
Num trabalho recente, publicado na revista European Journal of Neuroscience, este tema foi estudado com o auxilio de uma técnica chamada ressonância magnética funcional (fMRI, em Inglês). Neste estudo os participantes foram treinados para flectirem a mão ou o pé ao verem imagens de mãos ou pés flectidos, respectivamente.

Outro grupo de participantes foi treinado de forma inversa, ou seja, para flectir a mão ao ver uma imagem de um pé flectido, ou flectir o pé ao ver uma imagem de uma mão flectida. Depois do treino, os participantes no estudo foram submetidos a fMRI enquanto observavam as imagens referidas, mantendo-se imóveis.
O resultado da experiência foi muito claro: o sistema espelho pode ser treinado! O estudo mostrou que os neurónios respondem de acordo com o treino a que os participantes foram sujeitos e também que o sistema espelho pode ser revertido em pouco tempo, com novo treino.

Estes estudos têm importantes implicações nos processos de aprendizagem e aquisição de memórias, sugerindo que alterações no funcionamento do sistema espelho pode estar relacionado com várias patologias, como o autismo ou a esquizofrenia. A partir de agora, o leitor irá certamente ficar mais atento ao funcionamento dos seus neurónios espelho, e irá perceber que muito do que fazemos e sentimos sem pensar tem uma explicação simples: os nossos neurónios são vaidosos e gostam de se ver ao espelho.

retirado do site

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