segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

Investigador português descobre papel de certas gorduras na Doença de Alzheimer


Uma equipa dirigida pelo investigador português Ivo Martins, do Instituto Biotecnológico da Flandres, descobriu que certas gorduras podem activar no cérebro as placas de proteínas características de Alzheimer e que o metabolismo lipídico do paciente pode contribuir para a progressão da doença. O resultado dos trabalhos foi publicado na revista “The EMBO Journal”.

"Antes do nosso trabalho, as placas eram vistas como relativamente inócuas, o último estágio da doença, mas nós mostrámos que na realidade são 'bombas-relógio' prontas a serem activadas ao interagirem com lípidos", explicou Ivo Martins. Até agora considerava-se que as fibrilas e as placas que estas causavam eram estáveis e que uma vez formadas não podiam transformar-se noutra estrutura.

Os cientistas demonstraram agora que certos lípidos que aparecem no cérebro podem desestabilizar as fibrilas e, por conseguinte, as placas típicas da Doença de Alzheimer.

A investigação mostra ainda que são os componentes solúveis e não as placas insolúveis que provocam a morte dos neurónios.

Os resultados identificam estes componentes solúveis protofibrilares como novos alvos para uma intervenção na doença e alertam também para o facto de que as placas insolúveis são reservatórios de toxicidade que podem ser controlados.

Segundo o estudo, distúrbios no metabolismo lipídico do doente têm o potencial para influenciar o desenvolvimento da doença e pode ser a razão por que muitas vezes a extensão das placas insolúveis no cérebro de doentes com Alzheimer não corresponde à severidade da sua doença.

Estudos recentes têm sugerido uma ligação entre determinados alimentos ricos em colesterol e um aumento da incidência da doença de alzheimer, sem explicar esta relação.

A descoberta abre caminho a novas intervenções de combate a esta doença neurodegenerativa que afecta cerca de dez por cento da população acima dos 65 anos, nomeadamente no âmbito do controlo do metabolismo lipídico e neutralização da formação e toxicidade das protofibrilas.

"Já estamos a trabalhar no próximo passo que é produção de novas drogas e/ou anticorpos capazes de controlar as fibrilas neurotóxicas", afirmou Ivo Martins.

Alzheimer é uma doença progressiva e fatal que resulta da morte de certas áreas do cérebro associadas com as funções cognitivas como a memória e a aprendizagem.

O trabalho envolveu ainda Inna Kuperstein, Joost Schymkowitz e Frederic Rousseau, do VIB Switch Laboratory, Vrije Universiteit Brussel, e do VIB Department of Molecular and Developmental Genetics, em Leuven, na Bélgica.

Artigo deste estudo:
The EMBO Journal (2008) 27, 224–233 “Lipids revert inert Ab amyloid fibrils to neurotoxic protofibrils that affect learning in mice”

Acesso ao artigo AQUI


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