Marcação de peixes para estudo de repovoamento já utiliza satélites
O envio de dados sobre a vida dos peixes para um satélite é uma das mais recentes maravilhas tecnológicas em torno da marcação de peixes, que já se pratica na costa algarvia há cerca de seis anos.
O objectivo dos cientistas do IPIMAR (Instituto Português de Investigação Marítima) é sobretudo recolher informação sobre a adaptabilidade de espécimes piscícolas criadas em cativeiro às condições da vida selvagem. Ao longo dos anos têm sido libertados douradas, sargos (legítimos e veados), sargos safia, bicudos e linguados, ao ritmo de 5 a 6 mil exemplares por espécie, disse à Lusa o biólogo Miguel Neves, que coordena as experiências. "A safia e o bicudo ainda estão em fase de experiência e no linguado estamos a começar agora", explica o especialista, acentuando que a adaptação dos animais ao meio selvagem tem sido satisfatório.
As marcas mais comuns, utilizadas em exemplares de mais de 12 centímetros, é uma pequena fita amarela de plástico, com a data de soltura e um número de série, introduzido no dorso do peixe através de uma pequena cirurgia. "Os pescadores estão avisados de que nos devem trazer os exemplares se os encontrarem", assegura Miguel Neves, precisando que a taxa de recapturas de animais marcados ronda os três por cento. Como prémio pelos exemplares capturados ou as marcas - ainda que levem o peixe para casa -, os pescadores podem contar com alguns presentes do IPIMAR, nomeadamente adereços. Os exemplares entregues permitem à equipa de Miguel Neves inspeccionar o estado do exemplar e verificar, por exemplo, de que se alimentaram durante os dias de liberdade. Os peixes mais pequenos, entre 5 e 12 centímetros de comprimento, são marcados com o chamado "elastromo", um pequeno elástico colorido, fluorescente, que reage à luz negra, sem qualquer código ou número inscritos, capturado pelos próprios investigadores na Ria Formosa.
"Em certas circunstâncias, a operação sai muito cara se tivermos que esperar que o peixe atinja os 12 centímetros, alimentando-o nos nossos tanques", salienta o especialista, precisando que os dois tipos de marcas não excedem os 50 cêntimos por exemplar. Já as marcas acústicas, implantadas com recurso a pequenas cirurgias no abdómen dos animais, custam 500 euros e são destinados ao estudo das dinâmicas espacio-temporais dos espécimes. As frequências emitidas pelos pequenos dispositivos são captadas por sensores instalados numa vasta zona da Ria Formosa, os quais são depois analisados. "São marcas que dão acesso a uma quantidade enorme de informações, como os percursos que eles fazem e as horas em que se mantêm estacionários", esclarece, notando que cada sensor chega a registar 1,5 milhões de movimentos.
Até agora, foram marcadas duas dezenas de sargos, num trabalho conjunto do IPIMAR com o Centro de Ciências do Mar da Universidade do Algarve, no âmbito do programa Interreg III, da União Europeia. Em animais maiores, como os atuns, estão a ser cirurgicamente implantadas marcas com ainda maior sofisticação técnica: tubos de 18 a 20 centímetros, com antenas (designadas pop-up tag), que permitem comunicar dados para um satélite. As marcas estão programadas para se soltar ao fim de um período pré-determinado - até 9 meses - do dorso dos peixes, e subir à tona, comunicando com um satélite geo-estacionário, que por sua vez comunica os dados para Terra. Uma dúzia de atuns já foram marcados com este sistema, que permite conhecer os movimentos em profundidade, esclarece Miguel Neves, assinalando que a captura do próprio aparelho é o ideal, pois 90 por cento da informação acaba por ficar no dispositivo electrónico. Além da valiosa informação que contém, cada pop-up tag custa 3.500 euros, conjunção de factores que leva o técnico do IPIMAR a pedir aos pescadores que, em caso de captura antes de a peça se soltar, levem o peixe ao IPIMAR.
Texto retirado deste site
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